Com as mudanças climáticas, o oceano subirá de 45 a 80
centímetros até 2100, avançando até 80 metros sobre as praias da cidade
de Santos, no litoral paulista. Em diversos pontos, o mar invadirá
periodicamente 25% da área urbana - causando prejuízos bilionários -,
enquanto a operação no maior porto do Brasil se tornará inviável. Para enfrentar esse cenário catastrófico, previsto por dois diferentes
projetos de pesquisa, a prefeitura da cidade e a comunidade científica
já começaram a traçar planos para as grandes obras de adaptação que se
farão necessárias.
Cada um dos estudos considerou diferentes
cenários climáticos e usou modelos distintos para calcular os efeitos da
elevação do mar na cidade paulista. Um deles prevê que a elevação da
maré atingirá no mínimo 18 centímetros até 2050 e poderá chegar a 45
centímetros até 2100. Com isso, Santos precisará investir R$ 238
milhões em medidas de adaptação para evitar prejuízos de mais de R$ 1
bilhão nas duas áreas mais vulneráveis da cidade: a Ponta da Praia -
bairro valorizado que já sofre com o avanço da maré - e a zona noroeste,
área de baixa renda, longe das praias, mas alagável e cercada de
mangues.
"Esses valores foram calculados com base no valor venal
das propriedades que serão atingidas. Mas o estudo não incluiu os
impactos no porto e na infraestrutura urbana. Por isso, o valor real do
prejuízo será imensamente maior que R$ 1 bilhão", disse o cientista José
Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres
Naturais (Cemaden), coordenador geral do estudo - que também envolve
instituições como a Universidade de São Paulo, (USP), a Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) e o Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe).
O estudo faz parte do Projeto Metropole (em
inglês), uma iniciativa internacional que diagnosticou os impactos da
elevação da maré em três cidades - Santos, Broward (Estados Unidos) e
Selsey (Inglaterra). "No Brasil, Santos foi escolhida porque é a cidade
litorânea que possui os dados históricos mais completos sobre as
variações das marés e o georreferenciamento mais preciso entre as
cidades litorâneas", disse. Depois de uma fase de avaliação
detalhada dos impactos, os cientistas apresentaram publicamente os
resultados e, no início de dezembro, coletaram sugestões de adaptação de
representantes da sociedade civil de Santos. As propostas foram
processadas nos Estados Unidos, para avaliação da viabilidade técnica e
quantificação dos valores das obras.
"A prefeitura encampou o
projeto, porque ele vai auxiliar a cidade a criar um plano de adaptação
às mudanças climáticas", disse Marengo. Para ele, a necessidade
de obras de adaptação é uma realidade inevitável - e os estudos feitos
em Santos serão o modelo para outras cidades litorâneas.
"Não é
preciso esperar que o clima mude para ver o que já está acontecendo. A
população de Santos já percebe o problema quando as ressacas inundam a
avenida da praia. Por isso alguns prédios têm garagens subterrâneas com
comportas", afirmou.
Plano de adaptação. Segundo o prefeito de
Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), as propostas escolhidas incluem a
modernização das comportas dos canais, a recuperação do mangue, o
aumento artificial da faixa de areia das praias e a construção de muros
de proteção em trechos da orla. "Todas as ações terão base em
informações técnicas, mas a discussão será profunda. Ouviremos a
população e não aplicaremos a opinião isolada de nenhum técnico ou
autoridade", disse Barbosa.
De acordo com ele, o projeto é o
embrião de um plano para enfrentar a elevação da maré. No início de
dezembro, um decreto criou a Comissão de Adaptação à Mudança do Clima.
"Levamos a sério o diagnóstico feito pelos cientistas e sabemos que as
mudanças climáticas são inevitáveis. No prazo de um ano, teremos um
plano para que Santos possa se adaptar", declarou.
As informações são do
jornal O Estado de S. Paulo.
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